John Carpenter, em Eles Vivem (1988), criou uma alegoria poderosa sobre controle social, alienação e a perda da individualidade. Baseado no conto Eight O'Clock in the Morning, de Ray Nelson, o filme mostra uma humanidade dominada por extraterrestres que, além de se disfarçarem entre nós, manipulam as massas por meio de mensagens subliminares: "OBEDEÇA", "CONSUMA", "NÃO PENSE".
A obra é frequentemente reduzida a uma crítica ao capitalismo dos anos 80, mas sua mensagem é mais profunda: ela fala sobre como abrimos mão de nossa identidade para sermos aceitos.
A película demonstra que os aliens, retratados como ricos e poderosos, não apenas controlam a sociedade, mas ativamente perpetuam as condições de "MISÉRIA" que mantêm uma parcela da população subjugada. Eles são os CEOs, os políticos, os banqueiros, os apresentadores de TV aqueles que ditam as regras do jogo enquanto milhões vivem à margem, presos em trabalhos exaustivos e mal remunerados.
No filme, os alienígenas só são revelados quando o protagonista, John Nada (eu gosto do nome abrasileirado e da analogia, podia ter ficado perfeito com “João Ninguém”), coloca óculos especiais. Fora isso, parecem humanos "COMUNS", assim como muitos dos mecanismos de controle em nossa sociedade. Quantas vezes agimos contra nossa essência para nos encaixar em um grupo? Será que por iniciativa própria ou por alienação?
Nas redes sociais, moldamos nossa imagem para ganhar likes, mesmo que isso signifique suprimir opiniões ou adotar comportamentos "VAZIOS"; no trabalho, abraçamos culturas corporativas "TÓXICAS" em troca de aprovação e ascensão; na política, religião ou mesmo no consumo, seguimos líderes e tendências sem questionar, temendo o ostracismo.
Os "influenciadores midiáticos" de Carpenter são metáforas para qualquer sistema que nos faz trocar autenticidade por conformidade. Eles não chegaram em naves espaciais, já estavam aqui, infiltrados, controlando a sociedade por meio da mídia, do "CONSUMO" e da cultura massificada. E hoje?
Vivemos em um mundo onde: as "REDES SOCIAIS" ditam o que é desejável, e as pessoas moldam suas personalidades em busca de validação; o trabalho consome identidades, transformando pessoas em "colaboradores" descartáveis, desde que vistam a camisa da empresa e abram mão de suas individualidades; a política e a religião se tornaram espetáculos, onde o discurso vazio vale mais do que a verdade, e quem questiona é excluído (fascista, esquerdista, bolsonarista, petista). Eleitores que dizem ser de direita ou esquerda e nem saber qual a ideologia está inserida.
O filme também mostra humanos que, conscientes da manipulação, escolhem colaborar com os invasores em troca de "STATUS". Isso ecoa hoje:
Influenciadores que promovem cassinos online, sabendo do estrago do vício em "APOSTAS".
Celebridades que vendem produtos "INÚTEIS" ou dietas milagrosas, lucrando com a insegurança alheia.
Líderes que perpetuam discursos vazios para manter seguidores fiéis, quando o problema é o "SISTEMA" que eles estão inseridos.
A pergunta é: quantas pessoas fingem não ver a "MANIPULAÇÃO" porque é mais confortável? A alienação não é mais uma teoria da conspiração. É um negócio lucrativo.
Não precisamos de óculos especiais para ver isso. Basta olhar ao redor: quantas pessoas você conhece que já não sabem mais quem são fora do papel que desempenham? Mudam até o jeito de falar quando a câmera está "LIGADA".
Uma das reflexões mais contundentes do filme é que somos moldados pelo que absorvemos. Se uma criança japonesa cresce no Brasil, ela será culturalmente brasileira, nosso "HD MENTAL" é preenchido pelo ambiente.
E hoje? Passamos horas consumindo "LIXO DIGITAL" de TikToks virais que estimulam o imediatismo, publicidades que vendem felicidade como posse e novelas e filmes que reforçam estereótipos (quando foi a última vez que você viu um protagonista gordo, PCD ou idoso?).
O resultado? O Brasil lê menos de 4 "LIVROS" por ano (Prolivro, 2024), enquanto passa, em média, 5 horas por dia nas redes sociais (brasileiro poderia ler a bíblia em um mês, gastando a média de tempo nas redes). Temos acesso a todo o "CONHECIMENTO" do mundo, mas preferimos o conforto da "DISTRAÇÃO".
Políticos, corporações, gurus, algoritmos, todos vendem narrativas. Alguns por malícia, outros por ignorância. O resultado? Banalizamos a criminalidade (quantas séries romantizam bandidos?), normalizamos a auto exploração ("trabalhe enquanto eles dormem") e consumimos cultura descartável (músicas que glorificam vícios, reality shows que premiam a falta de caráter).
Eles Vivem pode ser brega, mas é atemporal. A questão não é "se" estamos sendo manipulados, mas "como" reagimos a isso. Se você nunca assistiu, "PARE" tudo e vá "ASSSITIR".
Não é exagero dizer que esse filme é um dos mais subestimados da ficção científica e um dos mais necessários hoje. Se Matrix ficou famoso por falar sobre ilusão e controle, Eles Vivem fez isso dez anos antes, com menos efeitos especiais e mais crítica social afiada.
Depois que você colocar os "ÓCULOS" (ou melhor, assistir ao filme), vai entender por que Eles Vivem continua tão relevante. É um filme sobre resistência, sobre enxergar além do que nos mostram, e sobre o perigo de aceitar as coisas sem questionar. É tome "CUIDADO"! Pois “Eles AINDA vivem” e acho que sempre "VIVERÃO PARA SEMPRE".